domingo, 14 de setembro de 2008

Divagações sobre a mente

Rascunho de 2005 que eu encontrei no meu HD e resolvi registrar:

Se a mente de um ser humano fosse privada desde sempre, desde antes do nascimento, de qualquer estímulo externo, ou seja, de qualquer experiência, parece óbvio que ela não seria capaz, por si mesma, do nada, de formular conceitos, realizar pensamentos, ou seja, adquirir conhecimento. Todavia, uma vez que essa privação não ocorresse, a mente receberia os estímulos e arranjaria em si essas informações, associando-as, separando-as, enfim, organizando-as. A partir disso, os conceitos e princípios ligados à experiência surgiriam. Agora, a partir desses conhecimentos "a posteriori", novos conceitos, derivados logicamente dos iniciais, podem surgir, e tais conceitos não seriam, pois, ligados diretamente à experiência, mas sim indiretamente pelos conceitos iniciais dos quais derivam.

A mente parece possuir algumas regras formais de raciocínio, uma espécie de fôrma para o conhecimento vindo da experiência, um mecanismo para calcular, processar tal experiência. É como se, caso houvesse a possibilidade de dois indivíduos receberem exatamente, desde o mais remoto momento de suas existências, os mesmos estímulos, as mesmas experiências, eles chegariam a exatamente os mesmos conceitos, as mesmas idéias, ao mesmo conjunto de princípios, enfim, ao mesmo conhecimento.

A mente pode ser imaginada como uma máquina de processamento, sendo as experiências os dados de entrada, e o conhecimento, o resultado do processamento. Não parece certo, entretanto, que as regras formais de processamento sejam imutáveis, que elas não poderiam ir se ajustando segundo os estímulos que fossem recebendo, numa espécie de processo dinâmico de auto-reajuste. Entretanto, talvez haja um conjunto de regras que, de tão fundamentais para o funcionamento do processo, permaneçam imutáveis, como, por exemplo, as noções básicas de tempo e espaço.